Poesias

PADECIMENTO

Se padeceres, alegra-te, não tenhas medo:
da janela dos cárceres, no mofo dos dias
entre noite e dor e vento, na leiva dos sonhos -
ali, quando o amor se aproxima no vão da febre,
no jugo da pedra, não serás só tu, se padeceres -
somos muito mais que nós, e solidários no haver
germinamos todos na grande labareda da vida
agora e na hora das cinzas de nossa Liberdade.

Se padeceres, alegra-te, não tenhas medo.
Das bestas em tropel às aves do Paraíso
as cicatrizes não esquecem do lixo-homem
nem dos loucos onde a memória ferida supura em flor,
e se o sangue não afogar a dor, ainda podes gritar,
e só a palavra grita por nós, planta raízes
agora e na hora do levante de nossa Verdade.

Se padeceres, alegra-te, não tenhas medo
porque verás o futuro nas areais do tempo:
ainda não percebes que o amor aponta caminhos,
as portas se abrem de par em par, a Vida
é bela, bela, e o gozo há de calar o pranto?
Padecer mais não podes nos umbrais do Paraíso
agora e na hora de nossas cotidianas mortes.


05/07/2011

 

 

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