Poesias
LIVRO DE PRECEITOS – 10
Só a um confessor
tudo pode ser revelado,
e que nos acolhe com sabedoria:
a ignorância.
Se queres de fato ver
vaza os olhos do orgulho.
Agarra o desejo pelos chifres
e deixa-te arrastar:
ainda há tempo e ocasião.
Do que vale a alma libertar-se,
se não provou as seduções
do pecado original?
Quando todos calam
e se fingem de mortos,
só a dor quebra o silêncio;
e não há solidão quando
se a interroga aos gritos.
Deixa que te culpem.
Não faz mal que todos te mordam.
Só é preciso não perder a palavra.
Guarda-te das palavras
cujos ventres não arfam,
nem rompem amarras.
Em vão esperam as palavras no morto.
E porque ninguém nunca as ouviu,
agora exalam um odor de culpas podres.
04/10/2011