Poesias

SER CAUSA INDETERMINANTE

Eu sou a palavra de ninguém
que nunca haverá de ser proferida.

Eu sou a sombra de alguém
de outra sombra que se perdeu do sol.

Eu sou o silêncio humilhado
mal nasce a manhã por uma dor alheia
/e muda.

Eu sou a esperança mal-parida
de uma espera inútil e tagarela.

Eu sou a moralidade burguesa
que não é religiosa nem ética, mas
/covarde.

Eu sou a felicidade que anda sobre brasas
e planta a dor dos outros dentro da alma
/e goza.

Eu sou o desejo, o tigre, a jaula
e já não sei o que fazer da liberdade
/nem das tentações.

Eu sou o destino de um vento faminto
e viajo por onde me levam e rechinam
/minhas sandálias.

Eu sou a memória culpada dos santos
que se arrependem das renúncias e do perdão
/e das tentações não cumpridas.

Paulo Roberto do Carmo
01/03/2017

 

 

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