Poesias
TEMPO DE AFIAR FACAS
Se a alma não tem rosto,
o desejo o tem, e mãos perfumadas
e um seio esquerdo
para brincar com o direito,
e quanto mais deseja
mais aprende a amar
as manhãs de hoje,
os modos de usar as horas
sem a nada habituar-se
senão à alegria que se cria
dos acasos do ócio.
Põe agora os desejos no jugo -
como bois de restelo - carne
que reservas para o banquete
da libertação, e afia agora as facas
que é chegado o tempo dos bárbaros,
os que plantam sementes de sangue
e colhem a dor que se alimenta
de outra dor, fruto de uma paixão inútil.
Paulo Roberto do Carmo
07/12/2016