Poesias

OS DIAS SELADOS

Selados os dias, a promessa de outros exílios:
os olhos não se fartam de ver,
sem enxergar; nem a boca de falar,
sem nada dizer; a vida não se farta
de sonhar para dentro, os avessos;
nem o sonho de viver para fora,
os espelhos. De repente surpreendemos
a alma abandonando a terra – a carne
que podia ter sido – se o sonho fosse outro,
ou, pelo oco de sua sombra, o enchesse
de sentido, o animasse ainda de sangues
ébrios, a promessa de outras ressurreições.
Mas o sonho não tem fim. Nem a solidão.
E terra e sangue e vida nunca se fartam.
Só a alma nos reconhece, e espera, espera,
janela aberta ao infinito, e celebra
as núpcias da palavra e do espírito.
Selados os dias, a promessa de outros exílios.


20/09/2011

 

 

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