Poesias

SEDUÇÃO

Mas é sempre outra coisa a espera.
A saudade, oco engano, e das migalhas
o abandono, o silêncio, como um tubarão
a rondar o rumor do sangue, e da náusea
das palavras abortadas eis que acena
a mão, a naja dos olhos de estranha
mulher, e um botão de seio a debruçar-se
da varanda esquerda, simulado e felino,
rosa a seduzir-te, deixando apenas
dos perfumes o rastro, os langores
de um sonho carnal, os primeiros galopes
de um orgasmo anunciado, a dançar
na ventania entre pirilampos e pólens
e a flor que se abre chamando a alegria
de suas pétalas por entre línguas de sol.
E o sangue nos trepadouros do corpo
escoiceando-nos o ventre pela força
da fome de todos os elementos, rumo à foz,
rumo às comportas que não se pode explodir.
Flor de cardo entre a esperança e o nada
(que é outra esperança) a deixar-nos levar
pelas correntes, morremos de saudade, e tudo
o que resta é a espera, sempre a espera
sob a fria sombra duma nuvem qualquer,
inviolável como o tempo futuro, e como
o espírito, que não se deixa ferir por nossos
pobres punhos, por nossas pobres palavras.


09/08/2011

 

 

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