Poesias

EIS A VIDA

Eis a vida, os pressentidos
da alegria, tudo o que se emprenha,
o pão, o cheiro do café,
a inocência do futuro,
as manhãs boas, as tardes néscias:
e que a vida se alforrie
de tantas fomes, de tantas mortes,
de rir depois das cicatrizes
antes de o sol se pôr
à demência da noite
e se reconcilie com as vinhas
da palavra, ébria na sinfonia dos ventos,
na cizânia do corpo e da alma
como duas metades da mesma laranja
que se libertam, e respiram pelo fogo
e pelo ar, pela seiva que espuma
da lenha a arder, pelas cinzas,
pelas sementes que voam nas painas.
É quando as falas contidas do desejo,
e enfunadas no peito, sob os tambores,
se desfraldam por um sonho conquistado.
É quando tua loucura começa a ser feliz
pela vez primeira, e a vida está fora
de ti. É quando aprendes que a fome
que te sustenta é pão e destino
de teus inúmeros espíritos,
e anda, a fome, em alvoroço e descalça,
sobre as águas de tua alma.


31/05/2011

 

 

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