Poesias
Depois da cal
Junto com o homem
nascem dor e fome,
desejo e morte.
E de tanto odiar a si próprio
como pode o homem abandonar-se
à alegria, amar o outro
senão a quem o faz sofrer?
O que mais o move:
o desejo, não a necessidade,
a dor que não se cala
a fome que não sossega
o desejo que não transborda
a cobiça que não o sacia
e come o coração pelas duas pontas,
e a morte, que se despe da carne.
E tudo seca e se cobre de cinza
depois da cal no coração.
Tudo que ainda resta, e morde,
e que nasce e cresce e ousa
o homem destrói, mal abre os olhos.
Paulo Roberto do Carmo
19/01/2010